O encanto dos Orixás

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Quando atinge grau elevado de complexidade, toda cultura encontra sua expressão artística, literária e espiritual. Mas ao criar uma religião a partir de uma experiência profunda do Mistério do mundo, ela alcança sua maturidade e aponta para valores universais. É o que representa a Umbanda, religião, nascida em Niterói, no Rio de Janeiro, em 1908, bebendo das matrizes da mais genuina brasilidade, feita de europeus, de africanos e de indígenas. Num contexto de desamparo social, com milhares de pessoas desenraizadas, vindas da selva e dos grotões do Brasil profundo, desempregadas, doentes pela insalubridade notória do Rio nos inícios do século XX, irrompeu uma fortíssima experiência espiritual.

O interiorano Zélio Moraes atesta a comunicação da Divindade sob a figura do Caboclo das Sete Encruzilhadas da tradição indígena e do Preto Velho da dos escravos. Essa revelação tem como destinatários primordiais os humildes e destituídos de todo apoio material e espiritual. Ela quer reforçar neles a percepção da profunda igualdade entre todos, homens e mulheres, se propõe potenciar a caridade e o amor fraterno, mitigar as injustiças, consolar os aflitos e reintegrar o ser humano na natureza sob a égide do Evangelho e da figura sagrada do Divino Mestre Jesus.

O nome Umbanda é carregado de significação. É composto de OM (o som originário do universo nas tradições orientais) e de BANDHA (movimento inecessante da força divina). Sincretiza de forma criativa elementos das várias tradições religiosas de nosso pais criando um sistema coerente. Privilegia as tradições do Candomblé da Bahia por serem as mais populares e próximas aos seres humanos em suas necessidades. Mas não as considera como entidades, apenas como forças ou espíritos puros que através dos Guias espirituais se acercam das pessoas para ajudá-las. Os Orixás, a Mata Virgem, o Rompe Mato, o Sete Flechas, a Cachoeira, a Jurema e os Caboclos representam facetas arquetípicas da Divindade. Elas não multiplicam Deus num falso panteismo mas concretizam, sob os mais diversos nomes, o único e mesmo Deus. Este se sacramentaliza nos elementos da natureza como nas montanhas, nas cachoeiras, nas matas, no mar, no fogo e nas tempestades. Ao confrontar-se com estas realidades, o fiel entra em comunhão com Deus.

A Umbanda é uma religião profundamente ecológica. Devolve ao ser humano o sentido da reverência face às energias cósmicas. Renuncia aos sacrifícios de animais para restringir-se somente às flores e à luz, realidades sutis e espirituais.

Há um diplomata brasileiro, Flávio Perri, que serviu em embaixadas importantes como Paris, Roma, Genebra e Nova York que se deixou encantar pela religião da Umbanda. Com recursos das ciências comparadas das religiões e dos vários métodos hermenêuticos elaborou perspicazes reflexões que levam exatamente este título O Encanto dos Orixás, desvendando-nos a riqueza espiritual da Umbanda. Permeia seu trabalho com poemas próprios de fina percepção espiritual. Ele se inscreve no gênero dos poetas-pensadores e místicos como Alvaro Campos (Fernando Pessoa), Murilo Mendes, T. S. Elliot e o sufi Rumi. Mesmo sob o encanto, seu estilo é contido, sem qualquer exaltação, pois é esse rigor que a natureza do espiritual exige.

Além disso, ajuda a desmontar preconceitos que cercam a Umbanda, por causa de suas origens nos pobres da cultura popular, espontaneamente sincréticos. Que eles tenham produzido significativa espiritualidade e criado uma religião cujos meios de expressão são puros e singelos revela quão profunda e rica é a cultura desses humilhados e ofendidos, nossos irmãos e irmãs. Como se dizia nos primórdios do Cristianismo que, em sua origem também era uma religião de escravos e de marginalizados, “os pobres são nossos mestres, os humildes, nossos doutores”.

Talvez algum leitor/a estranhe que um teólogo como eu diga tudo isso que escrevi. Apenas respondo: um teólogo que não consegue ver Deus para além dos limites de sua religião ou igreja não é um bom teólogo. É antes um erudito de doutrinas. Perde a ocasião de se encontrar com Deus que se comunica por outros caminhos e que fala por diferentes mensageiros, seus verdadeiros anjos. Deus desborda de nossas cabeças e dogmas.



Leonardo Boff

A ORAÇÃO A DEUS DE NIETZSCHE

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

São célebres, entre outras, as seguintes afirmações de Friederich Nietzsche:

"Deus está morto. Viva perigosamente. Qual o melhor remédio? - Vitória!".

"A fé é querer ignorar tudo aquilo que é verdade."

"As convicções são cárceres."

"As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras."
"O cristianismo foi, até ao momento, a maior desgraça da humanidade, por ter desprezado o Corpo."

Nietzsche não descobriu a “verdade” e há afirmações históricas de que morreu louco, eventualmente como consequência da sífilis.

Mas este filósofo tinha uma oração ao Deus desconhecido, que rezava assim:

“Antes de prosseguir o meu caminho e lançar o meu olhar para a frente, uma vez mais elevo, só, as minhas mãos a Ti na direcção de quem fujo.

“A Ti, das profundezas do meu coração, tenho dedicado altares festivos para que, em cada momento, a Tua voz me pudesse chamar.

“Sobre estes altares estão gravadas em fogo estas palavras: “Ao Deus desconhecido.”

“Teu, sou eu, embora até ao presente me tenha associado aos sacrilégios.

“Teu, sou eu, não obstante os laços que me puxam para o abismo.

“Mesmo querendo fugir, sinto-me forçado a servir-Te.

“Eu quero conhecer-Te, desconhecido.

“Tu, que me penetras a alma e, qual turbilhão, invades a minha vida.

“Tu, o incompreensível, mas meu semelhante, quero conhecer-Te, quero servir-Te só a Ti.”






(Esta oração foi retirada do livro Os Segredos do Pai-Nosso, de Augusto Cury, Ed. Pergaminho, págs. 164 e 165).

Jesus, o ser humano Part 1

Ao observar os discursos, as parábolas e os demais tipos de alocuções exposto por Jesus, é visto que não há "nada" de divíno que tenha sido manifestado em suas orações, mas uma ilustre e esplêndida demonstração de como ser realmente um humano. É fulcral perceber a paixão de Deus ao ponto de se limitar, tornando totalmente humano, utilizando a linguagem, os pensamentos e atitudes que não fosse além da esfera humana (com excessão de seu nascimento e ressurreição), é como se fosse um passáro que decidisse só andar e não voar ainda que tenha asas. Sendo onisciente decidiu refutar suas elucubrações sapienciais afim de quando ouvir sobre determinado pensamento não utilizasse de sua sabedoria transcendental e sim em se preocupar em pensar, estudar como qualquer ser humano, afim de entender agora como um ser humano e não como Deus seus pensamentos, sentimentos, dificuldades, dentre outros paradgimas e ensinar como viver sem destruir a vida.


Continua...



Rafael Q. Torres
"Examinai tudo. Retende o que é bom.”
- I Tessalonicenses, 5:21 -

O Senhor e Rei eterno
 

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